Fotos: Kirstin Scholtz/WSL
Num dia histórico, dramático, Adriano de Souza e Gabriel
Medina festejaram mais feitos inéditos para o Brasil na Meca do surfe mundial,
na sexta-feira (18). Medina foi o primeiro brasileiro a conquistar a
prestigiada Tríplice Coroa Havaiana, tirando Mick Fanning do caminho de Mineirinho,
que conseguiu o seu tão perseguido troféu de campeão da World Surf League ao
derrotar o havaiano Mason Ho na outra semifinal. Pela primeira vez, o Billabong
Pipe Masters foi encerrado com uma decisão verde-amarela no Havaí e Adriano de
Souza se tornou o primeiro brasileiro a ser campeão no maior palco do esporte,
com Medina repetindo o vice-campeonato do ano passado nos tubos de Pipeline e
Backdoor.
“É um sentimento
incrível e especial poder dedicar esse título ao meu grande amigo, Ricardo dos
Santos (surfista especialista em tubos assassinado no início do ano em frente à
sua casa na Guarda do Embaú-SC)”, disse Adriano de Souza, em lágrimas. “Eu quero
agradecer a Deus por esse momento, eu sou muito abençoado por Ele e pelo
Ricardo lá em cima. Eu fiz uma homenagem pra ele, está aqui na minha pele pra
sempre (mostrando a tatuagem), que diz ‘Força, Equilíbrio e Amor’ e era o que
eu precisava para ganhar este título mundial. Vou carregar a alma dele junto
comigo e sei que ele vai estar comigo onde eu estiver, porque eu tinha muito
respeito por ele aqui na Terra”.
Muito emocionado, Mineirinho também lembrou do seu início
sofrido no esporte, por ser de uma família humilde do Guarujá. “Eu também
dedico esse troféu de campeão do mundo ao meu irmão (o Mineiro que originou seu
apelido), que por 30 Reais ele comprou uma prancha de surfe pra mim quando eu
era criança. Na época, eu sei que era muito dinheiro pra ele poder comprar essa
prancha e hoje eu estou no topo do mundo por 30 Reais, então muito obrigado meu
irmão, eu te amo, amo toda a minha família e não vejo a hora de ver todos vocês
com esse troféu gigante nas minhas mãos”.
Para aumentar a dramaticidade do dia que Adriano de Souza
conquistou o segundo título mundial consecutivo do Brasil no Samsung Galaxy
World Surf League Championship Tour, com ele recebendo o seu tão desejado
troféu das mãos do campeão do ano passado, Gabriel Medina, no pódio do Billabong
Pipe Masters, as condições do mar estavam muito difíceis. Poucas ondas boas
entravam nas baterias e a maioria foi decidida com notas baixas, pois eram
raros os tubos que não fechavam rapidamente nas séries de 4-6 pés da
quinta-feira em Pipeline.
Sem tubos, Medina usou até a sua arma mortal, um aéreo
full-rotation muito alto, para derrotar o australiano Mick Fanning na semifinal
que valia o título da Vans Triple Crown of Surfing. Além disso, abriu a chance
para Mineirinho se sagrar campeão mundial contra o havaiano Mason Ho em mais
uma disputa fraca de ondas em Pipeline. Na metade dos 35 minutos da bateria, o
placar estava apenas 1,57 a 1,24 para Adriano.
Decisão do Título
– O tempo ia passando e nada de entrar ondas. Quando chegou uma série,
Mineirinho vem na da frente e pega um tubo no Backdoor que valeu nota 4,00,
enquanto Mason Ho tira 3,83 na onda de trás. Aí os dois travam uma batalha na
remada para ver quem chega primeiro no outside para ficar com a prioridade de
escolha da próxima onda e Adriano venceu. Só que ele pega uma que fecha rápido
e perde a prioridade. Mason desce na maior onda da bateria, mas cai no drop e
ainda volta com a prioridade, precisando de pouco pra vencer, 1,38 apenas nos
10 minutos finais da bateria.
Faltando 6 minutos para o término, Adriano pega uma esquerda
em Pipeline e faz uma série de quatro manobras com batidas e rasgadas jogando
muita água para trocar o 1,20 da sua segunda nota computada por 2,83. Com ela,
aumenta para 3,01 a vantagem sobre o havaiano. Mason arrisca para o Backdoor,
mas o tubo não rolou e Mineirinho ficou com a prioridade nos 4 minutos finais
da bateria. O havaiano pega outra direita fraca e o brasileiro entra numa maior
já dentro do tubo, que fecha a saída. Mas, Mineirinho volta rápido e mantém a
prioridade. O tempo foi passando, a torcida na areia já gritava “é campeão” no
último minuto e o título mundial foi finalmente anunciado para Adriano de
Souza.
“No meio do ano, eu achei que o Mick (Fanning) merecia o
título mundial mais do que eu”, disse Adriano de Souza, talvez pelo ataque do
tubarão no australiano em plena final da etapa de Jeffreys Bay, na África do
Sul. “Ele é muito forte e ter um tricampeão lutando comigo pelo meu primeiro
título mundial não foi fácil. Eu quero dar os melhores votos para o Mick e sua
mãe (o irmão mais velho do australiano faleceu quarta-feira na Austrália), mas
acho que o dia da minha vida chegou. É um sonho também ser campeão do Pipe
Masters, como o Jamie (O´Brien), o Kelly (Slater), o Bede Durbidge, entre
tantos nomes que estão passando pela minha cabeça. Não tenho palavras para descrever
como estou me sentindo agora”.
Seleção Brasileira
2016 – Os melhores surfistas do mundo voltam em 2016 para a abertura da
temporada no início de março na Gold Coast, em Queensland, na Austrália. No ano
que vem, a “seleção brasileira” que dominou 2015 com os títulos de Mineirinho e
Medina e ainda o potiguar Italo Ferreira sendo premiado como o “Rookie of the
Year”, estreante do ano, terá três reforços classificados pelo WSL Qualifying
Series, Caio Ibelli que foi o campeão do ranking, o também paulista Alex
Ribeiro e o catarinense Alejo Muniz, que volta à elite depois de 1 ano fora.
Agora serão dez brasileiros entre os top-34 da World Surf League, contando com
os sete desse ano, os campeões mundiais Adriano de Souza e Gabriel Medina,
Filipe Toledo, Italo Ferreira, Wiggolly Dantas, Jadson André e Miguel Pupo.
Nesse ano, o Brasil mostrou e comprovou definitivamente ao
mundo ser uma das maiores potências do esporte, junto com a Austrália e Estados
Unidos. Os brasileiros decidiram os títulos em incríveis nove das onze etapas
do Samsung Galaxy WSL Championship Tour 2015, ganhando seis delas com duas
finais 100% verde-amarelas seguidas fechando a temporada. Ela já começou com
três brasileiros invadindo as semifinais na Gold Coast. Adriano de Souza e
Miguel Pupo perderam e dividiram o terceiro lugar, mas Filipe Toledo festejou a
sua primeira das três vitórias no ano derrotando o australiano Julian Wilson
com seus aéreos mortais.
Fonte: Abrasp - Associação Brasileira de Surf Profissional
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